03 novembro, 2010

A importância do outro em nossa história


Creio que não é novo afirmar que a nossa história é constituída a partir dos vários relacionamentos que experimentamos. No cotidiano da nossa vida somos atravessados por ações, sentimentos e palavras, que vão tecendo avanços e retrocessos fundamentais em nossa construção.  
Desde o ventre materno somos tocados por várias sensações, que de maneira inexplicável, lançam a base do que denominamos como sociabilidade. A mãe e o pequeno ser que nela habita, experimentam transformações incríveis numa relação  de medo, alegria, entusiasmo, renúncia e para algumas, de esperança.
Essa relação nos acompanha todos os dias da nossa vida, e para aqueles que são cristãos, ela nunca deixará de existir, pois, ultrapassa os limites do tempo e espaço, chegando à relação de eternidade com Deus.
Quando Deus fez o ser humano segundo a sua imagem e semelhança, conferindo-lhe atributos, como a espiritualidade, racionalidade e sociabilidade, dentre outros, instituiu-se no cenário histórico do Éden, uma relação unilateral entre o Criador e as pessoas foram criadas para amá-lo sobre todas as coisas e se amarem mutuamente.
Na perspectiva cristã, a relação alteritária, que hoje tem sido um valioso objeto de estudo para educadores, sociólogos, psicólogos e tantos cientistas sociais, teve início no ser de Deus, que sempre subsistiu num relacionamento Triúno, criando-nos para a relação com outro, no cotidiano dos nossos sonhos.
Nesse sentido, é importante que estejamos sempre conscientes, de que somos seres sociais e precisamos de nos envolver com o outro, e constatar, que apesar dos sentimentos egoístas que conduzem as filosofias de um século materialista e hedonista, as pessoas podem experimentar de maneira limita, mudanças imperceptíveis e necessárias que acontecem no universo das relações humanas, produzindo ainda que imperfeitamente, a sensibilidade, a solidariedade, a acessibilidade, o diálogo e o respeito mútuo.  
Na verdade, somos sujeitos a partir do outro. Nesse aspecto o catedrático em filosofia e ética Fernando Savater, professor e jornalista, corrobora com que afirmamos, pois, para ele “ninguém é sujeito na solidão e no isolamento, sempre se é sujeito entre outros sujeitos: o sentido da vida humana não é um monólogo, mas provém do intercâmbio de sentidos, da polifonia coral”.
Na esfera dos relacionamentos humanos é necessário que tenhamos a compreensão de que participamos do processo histórico social, numa relação intercambial com as vozes da multidão que nos cerca. Não conseguiríamos jamais, edificar sonhos sem o outro.
Por mais que nos conduzamos em alguns momentos através de monólogos com a nossa própria consciência, e nos trancafiemos em nossos pressupostos, não podemos esquecer que a história da humanidade tem traços incríveis de intercâmbios entre os seres humanos.
Como cristãos, acreditamos que Deus nos fez para relação. Relação que tem um caráter triplo. Nos relacionamos com o Altíssimo, com o mundo criado a partir de um designer inteligente e com as pessoas. Cremos que há uma relação alteritária e muitos homens e mulheres quebraram paradigmas com o propósito de conhecer outros universos e de partilhar o seu mundo.
          Essa verdade nos remete aquilo que o autor bíblico, apóstolo João disse no passado quando afirmou que o Filho de Deus veio até a esse mundo e se relacionou com as pessoas, vestindo-se da natureza humana: “... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. João 1.14.
Todos os estudiosos ao analisar a vida de Jesus Cristo chegam à conclusão, de que ele teve a coragem de se relacionar e trazer uma mensagem incomum para universos sociais, culturais e espirituais, que não conseguiam compreender o motivo pelo qual existiam.
Portanto, o fato de sermos cristãos, não nos impede de conversar, caminhar e discutir com outras cosmovisões que são distintas das nossas. É certo, que muitos religiosos trancafiaram-se em seus mundos, por diversos motivos. Espero que o medo de dar razão as suas confissões ou crenças, não tenha sido o elemento motivador para a presença de um silêncio profético em dias de relativismo vazio e conservadorismo inflexível.
O nosso desafio é o de compreender a importância do outro em nossa caminhada e as mudanças que ele pode produzir em nossa história. Partindo dessa premissa, teríamos igrejas, escolas, partidos políticos, ongs, comunidades, cidades, estados e países melhores, vivendo acima de medos e radicalismos, se fossem tocados pelo o Outro, que de maneira providencial, utiliza outros para mudar a história da humanidade. 

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